sábado, 29 de setembro de 2012

Crônica

Aluno (a): Mariana Ribeiro de Souza     Série: 1º V01          Data: 03/09/2012                                      Professor (a): Enilda M. Santana Violetti                        Categoria: Crônica
Tema: “O lugar onde vivo”
Da vista da minha janela
Da casa laranja, no fim da rua, através da janela vejo a avenida deserta e sem vida. O sol que pinta o céu ainda fraco, a lua cheia e vistosa que agora é transparente diz adeus para os que ficam. Através da janela vejo os postes se apagarem, as casas se iluminarem enquanto o barulho nas ruas começa a aparecer. O dia acabou de nascer e com ele as pessoas voltam para sua rotina, nem parece que horas antes um caminhão cheio de trabalhadores rumava às lavouras de café e que os garis varriam as ruas escuras e frias.
  No som do silêncio, a voz na minha mente é clara, é num estalo que percebo o quão hipócrita são as autoridades que fazem propaganda de um paraíso cercado por pedras e montes. De um lugar pacato e ideal para voo-livre, asa-delta e escalada, uma atração que precisa ganhar destaque nesse Espírito Santo de meu Deus. Nessa “epifania” considero a ignorante população que em meio as suas críticas não se interessam por uma mísera causa que mude sua insatisfação para com este lugar. Não conservam o que há de belo e ainda caem nas lorotas de qualquer desentendido que deseja fazer burburinho por nada.
  Neste lugar tão peculiar, de gente simpática e supersticiosa, que se reúne num almoço de domingo, onde o feito de algum “Zé” é cochichado na porta da igreja e ganha as ruas, onde a padaria e a farmácia são logo ali, e onde um simples “oi” é uma conversa que dura a tarde toda, que tem um amanhecer tão lindo. É com tristeza que percebo que este momento, justo neste, onde o céu atinge um tom tão belo e a posição das nuvens é tão sublime, que as pessoas estejam adormecidas e não tem noção do espetáculo que se passa do lado de fora de suas casas; mesmo que isso esteja acontecendo em outro lugar, a combinação feita com as pedras gigantes e infinitas que rodeiam este pequeno vale deixa a visão encantadora.
  Não tão longe o barulho estridente do sinal da escola mais antiga de Pancas me faz despertar e perceber que a vida continua, volto para a realidade e ainda olhando pela janela percebo que vai chover, é tão bom olhar o céu e saber o que está por vir, enxergar azul e não cinza desbotado. As pedras estão tampadas pelas nuvens, já não é possível ver o topo da Agulha, muito menos o da Gaveta, e embora pareça que as mesmas estejam chorando como uma criança que acabou de cair, o sol está aparecendo outra vez, em poucas horas o nevoeiro se dissipa e o único vestígio de chuva são as trilhas deixadas pelas ‘lágrimas’. Viro meu rosto e por outra janela tenho a visão do único rio da cidade, quando era pequena ouvia histórias sobre crianças que se afogaram num rio límpido e fundo, ver que esse mesmo rio nos dias de hoje não passa de um esgoto a céu aberto me faz duvidar das histórias.
  Recapitulando a história da cidade, acho a ironia mais interessante e faço comparações absurdas. Entre imaginação e realidade, penso no tal Sebastião, que na verdade era dois, abrindo caminho por uma mata ainda virgem. Imagino uma colonização forçada e então Pancas vira colônia de Colatina, migram para cá pomeranos e mineiros, implantam sua cultura e influenciam no nosso modo capixaba de ser.
  Com o tempo veio a ‘independência’ e com ela mantivemos dois distritos. Embora Pancas não tenha vivido o coronelismo da República Velha, existiram fazendeiros gananciosos que tomavam terras e mandavam matar rivais antigos, até hoje existem pessoas com receio da terra dos pistoleiros, se soubessem que agora a palavra é pistoleira e que tem um sentido completamente diferente, ririam da própria tolice de que um dia tiveram medo deste lugar. Mas essas não foram as únicas mudanças, na verdade foram tantas que nem sei enumerar. O número de casas aumentou e já não é em todos que se pode confiar, os costumes começam a se perder e os jovens não veem a hora de se mudarem daqui.
  O sinal toca pela segunda vez e me desfaço desse devaneio de colônia, coronelismo e mata virgem, me despeço de minha janela sabendo que não necessitava tristeza, sem demora estaria de volta com mais lorotas sobre um assunto qualquer, por hora tinha que cumprir minha obrigação de cidadã indo até a padaria para descobrir as novidades que alguém me contaria assim que dobrasse a esquina.

Um comentário:

  1. Crônica esplêndida! Adorei! A autora está de parabéns, pois o texto está ótimo, com belas concordâncias. Continue à escrever, pois você irá longe! Abraços.

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